domingo, 20 de dezembro de 2020

Roteiros

Cigarro, cirrose
Álcool, câncer
Metrópole, marasmo
Fazenda, enxaqueca.

As vezes a vida não segue o script.
E ta tudo bem.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Quanto vale o show?

Quanto vale o show?
Quanto vale?
Se somos protagonistas de nossas vidas
Com plateia intermitente e figurantes sem pudor, nós sabemos
que ainda sim nos censuram... 
Alias, quanto te pagam ao fim do mês 
pra desistir diariamente do seu sonho?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

a lua me chama

 na curva do infinito
a sombra do universo
me traz a mansidão
de quem quer no riso mudo
alcançar as estrelas
sem tirar o pé do chão.

eu me recuso
a ser a resposta dada por educação
eu quero mais, quero
ser a valsa da menina que termina a noite mulher,
ser  o frio na barriga em dia de grinalda,
ser a paz que transcende o abraço deitado.

e no caminho de volta
em uma dessas curvas do infinito
eu quero capotar o meu eu lírico
e ser parte da sombra do universo.

domingo, 4 de outubro de 2020

guarire

o que eu não controlo da vida
não me pertence,
mas o processo que procede o resultado
é tão meu quanto a voz na minha cabeça.

ponderar sobre ela para não ser um covarde insensível
e tampouco um lunático irrefutável,
a intensidade em que me machuco
é a mesma que me regenero.


domingo, 20 de setembro de 2020

uma oitava

nem só de luz se alimenta a esperança
bem como as trevas não só emanam escuridão,
cada qual em seu potencial
extraem de mim o que de melhor eu posso dar

minhas vontades ecoam no alto da montanha
feito alaridos febris de quem perdeu a guerra,
a redenção de quem ousa viver
com certeza é sentir.

domingo, 23 de agosto de 2020

19h04

O domingo não me chama 
porém me acolhe:
O que é que quer de mim se não só o que me resta da semana?
E o que me resta da semana?
Se só cultivei as belas coisas, pois assim então as ruins não tenho e
Se só cultivei maus hábitos, eles se agravam ou se afagam?

domingo, 26 de julho de 2020

Sebastião

an oldman thankful for his entire life
teach us more than we could learn,
vô, seus costumes antiquados se perderam
na transição de gerações da nossa família

é verdade que o senhor se foi cedo,
e antes mesmo que pudesse me ver crescer
os seus olhos passaram a ser os da minha vó,
os quais pela avançada idade já mal me reconhecem

na genuína insciência de quem só viveu no campo
a cidade nunca tivera o seduzido, senão
para os proventos da família que formara e assim
trazia junto ao seu burro de carga as vendas do dia.

como quem não queria nada além de se sustentar
soube ensinar o brio necessário para enfrentar a vida
just like an oldman with a child's soul
swimming in smiles for your grandchildren.


sexta-feira, 3 de julho de 2020

dissonante

Cantava como quem tinha
o maior dos desprezos pelo silêncio,
fosse acordando, fosse de encontro ao sono
solfejava melodias nos mais singelos melismas.

Olga, não.
tinha pela quietude total apreço,
em sua utopia havia apenas bolas de feno ao horizonte,
abraçava o silêncio como se a aquecesse.

O sossego o atordoava de tal forma
que suspeitava ter sido telefone de escritório na vida passada
e não largava o habito:
havia sempre de conversar com os passarinhos pela manhã

Aos finais de tarde ela conversava com o por do sol
como um smartphone se comunica com a tomada,
com a licença da analogia
Olga concluíra que conversava mais que seu oposto.

Ele, que de pirata não tinha nada
comprou um papagaio e passou a conversar em ecos.
Ela, por sua vez, fez um voto de silêncio
onde sua ultima palavra foi:

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Nero

Quando vim a vida
Vi que "puxa vida"
Tipo o Júlio do Cocóricó

Pensei: "aqui não é fazenda
Mas tem capitão do mato
subindo no morro e forçando BO".

O preconceito era escancarado
Não diminuiu, só ficou velado
E todo mundo foge do assunto
Porque diz que o tema é "muito delicado".

Delicado é o dente-de-leão,
Pauta social se faz necessária,
Enquanto sociedade, todos sangram
E o sangue do preto ainda é cor primária.

João Pedro, Rafa Braga
Marielle e Guilherme Guedes,
Foram oitenta tiros e ninguém teve dó.

domingo, 24 de maio de 2020

3/4 de amor

Pra que tanta provação? Por que tanto desespero?
Implorei pra ficar, mesmo quando nem dois resultavam em um inteiro
Eu necessitava tanto de você que me neguei a aceitar
Aceitar que eu estava com medo
De minha alma gritar que eu estava com você 
Por qualquer motivo que não fosse o querer

Corais

Eu coloquei no mudo
As vozes da minha cabeça
Eu mergulhei profundo
E implodi minha enxaqueca

Eu fiz de tudo um pouco
E nada foi tão bom assim
Eu sei de tudo um pouco
E muito pouco sobre mim

A vida é mesmo coisa 
de quem quer se diluir
No mar de outras pessoas
Se deixar levar, fluir

Como quem te prepara para
O mar ir navegar,
Há ilhas perturbadas
Por todo e qualquer lugar.

Ouço o canto da sereia eu
Posso até me iludir,
Mas se sei da intenção
Eu nado pra longe dali

De aventura em aventura
A barba cresce e embranquece
Essa é a perfeita abertura
Pra matar o que não se esquece.

Como o que não se esquece,
O que você não se esquece?


domingo, 17 de maio de 2020

Somewhere

Chasing a dream in a money society
It's like picking up sand with only one hands

So I realize time is passing by,
And is so sad to see, always hurts me

Among us, the good and evil
Is easily to choice - whispered the devil

Furthermore, the good is only valid
With a self promotion like a insta stories

But what can I say, what can I do?
A lot of people dying for no following WHO

Natural selection is a game changer
And what you believe will keep you alive

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Villarrica

No côncavo da clavícula me afaga
Entre o peito e o pensar,
Me tens perto da boca
Onde eu possa sussurrar ao pé do ouvido

Falácias nuas
Dessas que em um dia quente
As roupas entram em erupção
Pelos quatro cantos do quarto

Pois enquanto encontro, abalo sísmico
Desses que chacoalham a alma
E brandam pedidos
de liberdade. 

Eu busco em mim 
a felicidade que caiba no mundo
E não no mundo a felicidade 
que penso ser para mim.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Ridere risum

Tem gente que sorri com a boca
E o sorriso dança
como quem os males espanta

Tem gente que sorri com os olhos,
Que quando escapa a lagrima
Quem chora é ela por partir

Tem gente que sorri com a alma:
Pessoas que sorriem no gesto
gentil do jeito.

E tem gente que só sorri por sorrir,
Que sabe que a dor existe
Mas a felicidade é que está por vir.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Bastidores

Eu poderia ter errado menos,
poderia ter sido mais conciso e ponderado.
Eu poderia ter sido melhor e perfeito,
tudo isso no meu pensamento.

Saudosismo é o resta:
Sinto bem que sou, hoje,
parte empírica do projeto Vida,
E que hei de ser eu se não arrependimento e ansiedade?

Ansiedade pelos fardos que herdei
 e arrependimento pelos frutos que não cultivarei.

Não gosto de errar, não com as pessoas.
Mas estamos sujeitos a isso.
Uma vez que aceitamos nossa imperfeição,
parte do processo é poesia
e tudo se acalma.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

In natura

A vida é um grosseiro pleonasmo
Que te obriga a ser forte a todo tempo
E quando não consegue, o eufemismo hipócrita ecoa
Por entre as bocas malditas do dia a dia.

Em cada oração a construção
do verbo edifica a ironia que essa vida é,
e se assim não fosse, o céu não seria
a maior das metáforas.

Bendito seja o literalmente usado de forma correta,
Abomino a conotação
no que deturpa o sentido.

A vida é a consumação de palavras
a serem descobertas e assim vividas.
De fato, a vida é o verbo mais intenso.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Sequoia

Nós, que somos herdeiros
de consequências e escravo das
nossas vontades.

Nós mesmos, que somos poesia
no gesto, no jeito e no ser,
que somos poetas mas nem todos conseguem ler.

Nós, que buscamos incessantemente
no outro o que primeiro
deve-se ecoar em nós, penso:
o silêncio ainda é o melhor som...

A beleza que habita no efêmero
é singela ou sucinta,
já a virtude 
habita na eloquência de se poder errar.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Chama azul

A noite cai e com ela toda a culpa que eu mereço
Um homem de pecados, tenho vozes na minha cabeça
E quanto maior o silêncio ambiente, mais alto elas ecoam.
O inferno não está abaixo dos pés, está dentro de nós.

No desafogo da alma, o calor transpira a sede da vida
Não há no mundo dor maior.
Engulo a seco a minha paz e
Abraço os alaridos da minha mente.

Linha de frente na guerra das decisões:
O certo ou o seguro?
Optei por aquilo que acho certo - e quem dita o que é certo? -
Em meio ao caos, a mistura homogênea de sangue.

Lancei ao submundo a minha prece:
Que por cada atitude de coração me cresçam asas.
Sob a benção de Ícarus anseio o céu,
Espero ter mais sorte do que ele teve.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

pag. 3 e 5

Curioso caso: Cândido condenado
Cordial, confessou os crimes clichês
Cético, cauteloso, coeso e crítico
Cândido: cárcere cósmico e concavo.

Efémero, no escopo o escárnio explícito
Entretanto, entediado escreve emotivo
Erosões, emanam emancipação eterna
Estrangeiro, estrábico egoísta estúpido.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O velho pub, 1889

Acorde,
enxague o rosto, vista seu melhor sorriso e enfrente o mundo!
Ou não.
Permita-se acordar gradativamente e que as remelas esvaiam-se gentilmente da concavidade dos seus olhos. Mas não esqueça de lavar o rosto, isso é importante.

Defronte a manhã seja ela ensolarada ou cinza-nublada,
Permita-se apreciar, sentir, existir e viver
E agora a pensar: o que você faria?
Faça ao contrário dessa vez, e faça porque você pode.
Pegue outro caminho para casa,
Beba outra cerveja, aquela que nunca bebeu,
Sorria nefastamente para o desconhecido, para o nada, para o inimigo!

"Irene, traga-me a melhor bebida que tiver!
Ou a pior... Ou apenas a que meu dinheiro puder comprar, tome, aqui! Apenas traga-me. Obrigado!"

Saia em plena terça-feira, chame os amigos e vire a noite como quem não tem nada a perder além da vida não vivida e seja livre. Tão livre para ter a paz de se emaranhar ao cobertor e hibernar pelo final de semana inteiro, sem qualquer badalação e que isso não corrompa o âmago da sua paz.


Combine amarelo com roxo, verde com vermelho. Faça um carnaval com o seu corpo.
Ou saia trajado inteiramente de preto, de luto, está tudo bem também.

"Irene? O que houve com meu copo que retornou vazio? Ora pois, essa mulher me deixa com os olhos semicerrados."

Estude, trabalhe, viaje o mundo e não necessariamente nessa ordem. Plante mandiocas, alfaces, arvore de acerola - Ah, quem resiste a um bom pé de acerola?
Duvide! Duvide de si, duvide do outro, duvide de tudo e até do ceticismo. 
Caia no abismo da dúvida, pois ela é o preço da pureza e arranque seu maior voô para os braços quentes de quem te acompanha desde pequeno.

Ajuste a cadeira, cuidado com a postura.
Volte alguns versos, leia com entonação e atenção. Ou apenas continue.

"Senhor? Não era sobre isso que falava? - e riu discretamente, antes de desabotoar o avental que cairá ao chão e ir embora."

Eu saboreio a vida como quem se flagela com os próprios erros.
No final - se é que há final - o preço da vida é 
único e exclusivamente
ser protagonista das minhas decisões. Certas ou erradas, apenas um ponto de vista

"Adeus, Irene, adeus!"




domingo, 5 de janeiro de 2020

Whiteboard

Com a tinta do caos
um quadro em branco foi pintado
embora passasse anos
jamais revelou-se seu significado

Passava-se o tempo
e inúmeros amantes da arte
as tentativas continuavam
mas nenhuma que o desvendasse

Surgiu então uma mulher
perdida em seu devaneio
olhou aquele quadro
e pensou que fosse espelho

A medida que se aproximava
maior foi sua identificação
aquele não era um quadro branco 
era reflexo do seu coração