segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Optometria disléxica

Sucinto e singelo, tom amarelo:
A cor que pede atenção e a tem.
Na luz do giroflex
a mão de quem atira 80 vezes 
é tão pesada quanto um dia cinza,
e o marrom abre espaço sob as pegadas
na poça vermelha do despreparo.
Aqui o verde não prospera.
Onde o filho chora e a mãe até vê, mas não pode fazer nada.
Marsala, bege, azul...
Quando se é pobre e morador de favela
você pode pintar cada barraco de uma cor
e ainda sim não vê a paz.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Caesari quod est Caesaris

Aqui o tempo é ruim o tempo todo
E quem diz que não, é passageiro,
Breve a afogar as palavras
No vômito árido de sua ignorância.

Aqui o tempo é ruim o tempo todo,
O sol é estagiário contratado
E a liberdade sempre de greve.
Visita frequente? Saudade.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Cinzas do Éden

Tenho em mim:
O existencialismo de Sartre,
A inquietação de Nietzsche
E as dúvidas de Sócrates.

Não há cura para as feridas
Que o conhecimento causa à alma
Os enfermos entranhados
Ecoam em cada mísera célula.

Alaridos vazios de sanidade
E exacerbados de anseios
Nessa jovem idade.

A vida é um breve sopro
No sol, o frescor e
Na sombra, a asma.

sábado, 14 de setembro de 2019

Capricho estoico

Novamente a noite me afaga
Como quem sussurra palavras ávidas
Enquanto a alma manifesta alaridos
Me sinto cansado porem vitorioso

Pois apesar do que não me satisfaz
Sigo edificado na conduta dos meus princípios,
O que me aproxima de quem sou
Ou quem penso que sou

Eu, que da noite sou refém
As vezes me entrego ao sadomasoquismo 
Que meus pensamentos insistem, 
Em prantos, chamar de hedonismo 

Alma calejada, consumada e erodida
Cara lavada, salinizada pelos riachos da vida.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Mesóclise

Amar-te-ia se assim já não fizesse e
A Marte ia ainda que não quisesse,
Mesóclise arcaica e extremos pueris bela
Só não mais graciosa que o sorriso dela.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Polaroid

Eu me despi
E fui assim como nasci
Me entregar para você
Como quem não tem nada a perder - e eu não tinha mesmo -

E ganhei
Mais do que sonhei
Eu vi, vivi e senti a vida
Pelos braços que me afagaram

No abraço apertado,
No beijo com o tempo parado
O universo inteiro cabia ali
E eramos apenas nós

Não tínhamos muito
E assim muito foi conquistado,
Aprendido e amado,
Revelado.

terça-feira, 9 de julho de 2019

patrono apático

do alto do meu convés:
vi caucasianos se declararem superiores
e banharem em sangue os pavimentos do navio
que outrora foram construídos pelos que ali foram açoitados

do alto do meu convés:
eu vi ambos criarem e nutrirem deuses
e sem resposta, amaldiçoa-los e 
buscarem em si as respostas que os corrompiam

do alto do meu convés:
eu vi a ascensão de uma espécie 
e sua total derrocada...

eu vi e sorri, do alto do meu convés:
o naufrágio dos egoístas no réquiem agoniante
de seus alaridos irritantes.


domingo, 23 de junho de 2019

apophis

sometimes I see my demons
and I watch them giving their best
to see my worst,
just for fun...

in the edge of my thoughts
from the ends to the center,
I desire with all my strength:
fire.

to reborn
more hopeful,
stronger
and clever.

thats all I want
thats all I really need.

terça-feira, 21 de maio de 2019

nihilist poem

o silêncio que me invade
me rende,
e abre espaço ao existencialismo colossal
que se entranha no meu corpo
e se dissipa 
contaminando toda minha fé 
e esperança no amanhã.

terça-feira, 14 de maio de 2019

postergado ato

nos desprendemos e nos entrelaçamos:
do colo da mãe ao peito da amante,
rompemos os laços que criamos
na fantasia do ideal de nós.

a vida nos dá 
como quem vislumbra o horizonte,
e nos tira 
como quem logra em queda livre

seria sádico
ou seria belo?
o agridoce presente na essência da alma
naturalmente se desenvolve...

a vida no final há de ser isso:
uma criança que
brinca sozinha
de gangorra.

domingo, 14 de abril de 2019

olhar de rede

um olhar de rede
que pega qualquer peixe
e não se vive mais de amor em sede,
afogados e
respirando
a paixão do deleite.

terça-feira, 19 de março de 2019

pedestal

eu gosto dos holofotes
das entradas triunfais
do reconhecimento,
sou só mais um egoísta imbecil
hedonista com a alma em evaporação

e se eu virar chuva
vou cair por terra como dilúvio
deixando marcas por erosão,
porque eu gosto dos holofotes
das saídas triunfais
dos aplausos torrenciais.

quinta-feira, 7 de março de 2019

metrópole

meu corpo grita por silêncio
no sussurro de uma alma hipócrita
erodida pelo dia a dia
numa rotina cinza feito de buzinas, 
engarrafamentos 
e atrasos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

maiêutica particular

se em cada anseio 
a calma já me fosse dada
eu certamente não me desesperaria
assim como também não aprenderia.

se em cada desencontro
eu não fizesse minha busca particular
eu estaria a deriva,
buscando a mim em outras vidas. 

e se em cada passo não existisse
a busca de ser alguém melhor
eu estaria pisando em vão nesse solo fétido
fértil em falsos valores.

e se a cada "e se"
não existisse o cético que exacerba em mim
eu seria mais um anestesiado a rotina,
ligado a matrix.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

a soma

semblante de um novo dia, um dia bom 
que seja como todos os outros 
mas que seja como a soma 
de todos os outros 
e que vivamos intensa e arduamente 
tudo que há de ser vivido

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

flores de sal

do jardim que a vida dá,
das flores que o jardim tem
e do perfume das rosas,
não há um dia sequer que eu não regue a tua saudade

nas flores de sal
e que cheiram a saudade
rego todas e não só com água...
flores de saudade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

samsara fracionada

rudimentar, anestesiado
estendido, alongado
lento, prolongado
longevo, debilitado

há de ser o meio
o que me acopla o corpo
e faz da maturação
o que sucede o esforço

e a vida não cansa de ser maçante,
a cada chegada um novo caminho
a cada filme um livro esquecido
a cada despedida um novo amigo

vetusto, depauperado
moroso, demorado
acrescido, desdobrado
basilar, insensibilizado.