segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Ópio

Nas suas póstumas memórias
Que me dão apenas qualidades
Dores de (antigos) amores e glórias
Ofuscam minha pequena idade

Me fez mais forte no imaginário
Onde fui moldado ao seu prazer
Entre comandos em binário
Só me resta ser ou não ser

Na terra que se dão presentes
A vivos, mortos ou inconscientes
A culpa não se faz ausente
De quem ainda vivo mente.

Quando eu for e eu me vou
Eu quero permanecer nesse mundo
E por isso escrevo o que sou:
Um estranho sentimento profundo.

domingo, 21 de agosto de 2016

Grey storm


A sensação da agonia
De poder alcançar e tocar
O nada de mãos frias
Me da falta de ar

As previsíveis falas pairam
Na mesa do jantar
E já não me satisfaz
Ética, moral, amor ou matar

Escolho o amor a morte
E a moral é minha conduta interna
Ética é para alguém forte
E eu vivo debaixo de asa materna.

Queria ter de volta a inocência 
Que todo conhecimento me roubou
Queria viver em total abstinência
Das memórias de quem um dia já me amou.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Que me perdoem, pt 1.

Cazuza que me perdoe
Mas de amores tranquilos eu quero distancia
Eu quero é a ousadia
De um amor com loucura em abundancia

Que me perdoem os românticos
Que por um alguém
Atravessariam o atlântico
Meu tesão acabaria num instante

Que me perdoem os amantes fieis
Que simplificam o próprio amor
Sem desafio não há competição,
Nem ganhos ou  dor

Que me perdoem todos aqueles
Que não deram certo com seus amores
E serão infelizes com seu passado
Carregado e anestesiado de dores.

Ventania

Eu sou insuportavelmente um mistério
Pós debate filosofico uma pausa cafeínada
Acordes com nona e sétima menor
Acalmam-me para uma nova jornada

O tormento matinal e seu estático cinza:
Um ponto no ponto do ponto que é o universo
Sou eu!
Aqui escrevendo esse verso

Sou de quem é mais meu do que meu eu abstrato
Sou toda a história mal contada
Sou um porta retrato

Sem fotos
Sem lembranças
Sem momentos
Sem saudades

Afinal, a vida é de quem se presta a olhar pro céu
E tropeçar, para entender que sem o inesperado
A vida perde todo o barato.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A metafísica modeladora

Se seu corpo fosse um mar
Nele estaria a navegar
Com intensidade e a todo vapor
Encarando as falácias do amor

Se seu corpo fosse uma chama
A quem só a mim clama
Me queimaria intensamente
Ao te tocar diariamente

Se seu corpo fosse meu
O sonho de um reles plebeu
Que por amores já morreu

Todas as manhãs renasceria
E morrer não me importaria
Ao saber que a ti, sentiria.

Crônicas #1 - A palhaça

Começara o trânsito e de brinde a garoa serena caia, ao freiar o carro pelo engarrafamento, fiz uma avaliação em 180 graus de onde estava: ao meu lado esquerdo uma praça com pequenos quiosques e uma banca de jornais, a frente a fila tediosa de carros e a minha direita o improvável, uma jovem fantasiada de palhaça esbanjando felicidade com seus sorrisos graciosos, estava a fazer animais com as bexigas e doando a qualquer criança que passasse. A primeira garotinha ganhara um cachorro, a mãe agradecera e continuaram seu caminho, agora em três sorrisos. poucos minutos depois ela avistou um garotinho vindo de mãos dadas com a mãe em um tom meio apressado pois a garoa ainda não havia cessado. a rápida palhaça fizera um cachorro novamente, me perguntei se fora por falta de habilidade ou criatividade, mas realmente importava isso? Feito o cãozinho de bexiga ela estendera a mão para a criança pegar e surpreendentemente a mãe recusou. O sorriso dela ainda estava ali mas fora diminuindo pausadamente até ficar um pouco sem graça. Agora é a questão que realmente importa: porquê uma mãe rejeitaria uma pequena oferta de felicidade ao seu filho? ate onde sei não conheço restrições religiosas para bexigas fofinhas. A mãe estaria num mal dia? Qualquer pessoa que recebe um sorriso gostoso já melhora seu dia. O que a final, pode ter acontecido? Nunca saberei. O que me recordo bem é após terem passado da pequena palhaça a mãe apressou o passo e a criança como uma coruja com sua cabeça virada para trás, sem entender o que acontecera, seguiu tentando acompanhar os passos largos de sua mãe, com o olhar brilhando pelo seu quase presente ganho.