Náufrago

Viajando os sete mares da modernidade

em escala decrescente

vi amor e verdade

Viajando os sete mares, 

tive presságios

viajando os sete mares

vi inúmeros naufrágios.

Afago

Entoa em nós toda bravura

De quem quer desvendar o inóspito,

Em tempos de nômades, passamos a frente:

Sedentários.

Sedentos pelo sabor da homogeneidade.

Groove

A arte destoa a realidade

Afina a alma, groova essência e almejo,

Harmoniza dor com aprendizado, experiência:

Sussurra a vida feito mãe

em canções de ninar.

Natural

Com o ar da graça o natural se cria

Cresce, dissemina e emaranha

E quando viu, já foi

Quando vê, já é.

Adubo

Um abraço tão forte que adubava as almas 

e fazia florir

ali

flores que nascem em qualquer estação

flores que brotam só no coração.

Intersecção

tua alma fria arde em chama

quando quente sente o toque,

dessa essencia esvai afago

evapora eros, e chove horas

de desejo das nuvens de apego

que só os covardes tem medo

e os corajosos verbalizam

o desejo

de ser dois em um só, ser nós

ser os dois mas sozinho, a sós

de se sentir inteiro mas contemplado

com quem transborda mas bebe 

lado a lado.

Haréns

dispensando haréns

de mulheres que não me convêm

cheias de tesão e vazias de emoção

loucas pela ambição

de ser a unica nessa confusão

quando na verdade

sucumbe ao efêmero o subordinado

conquanto emerge naturalmente

o que os deuses em nós tem plantado.

Drogas

Você é a sua própria droga
E se viciou na sua fraqueza
Está delirando desculpas para ser forte
Preza, pela cura do acomodo da incerteza

Você é a sua própria droga
O seu maior inimigo e pesadelo
Criaste um monstro no seu coração
Intangível de maturação

Agora encontra-se fraca, sua missão é me afastar
Mas quando sua droga perde eficácia
Implora-me a voltar

Eu já te visitei tantas vezes
Nessa clínica de reabilitação
Procurei mostrar todos os dias
O quão bela você é sã

O desabafo do mudo

O desabafo do mudo

Cantado pelo surdo

Escorre aos olhos do cego

Que só sente tocar

Na alma, 

Já que no corpo

Sistema nervoso

Jaz em calma.

Sambadinha

Sambinha bom é esse que vem

do seu coração, 

e transbordando em riso a emoção,

gratidão

dos passos dados 

ao som da cuíca

que chora, chora e chora

de alegria, bonito choro

de agonia, felicidade transborda

agora ao som do samba

todo dia.

Colapso

O atrito que há no encontro

das paixões exageradas

Não resulta em outro fim,

Se não o colapso das almas.

Que se açoitam mas não desistem,

Tornam-se da vida, calejadas.

Graduavelmente maduras

Para que quando o coração chame

estejam mais preparadas.

Hidra

Minha essência é hidra

Sempre que cortada

Fica em algum lugar

Renasce em mim e habita ali

Preparada para amar.

Aviso prévio

Quando ela pediu demissão

Na empresa do meu coração

Me avisando que só cumpriria aviso prévio

A minha vida tornou-se tédio

Era enquanto ali estava

Uma chama lenta que se apagava

E eu sabia que acenderia

Pra outro alguém, um outro dia.

Carpe diem

Se o acaso fizer do verbo, saudade

Não partirá de mim essa vontade

Se o acaso fizer da saudade, ação

Vou-me em busca do seu carinho de mão.

Versos arrumadinhos

O verso seria mais estético

Se eu não estivesse apaixonado

O verso seria, no mais, a vida é

Quando estou do seu lado.

O verso seria e - ainda bem - que deixou de ser,

Pois no papel é lindo

Mas que beleza é maior

Quando estou com você?

Ciclos

Tenho mais amor que água

E vivo em ciclos

Renovando meu amor 

Por você

Em chuvas de beijos

Evaporam-se desejos

E cada vez mais intenso

O largo do sentimento.

Tutano

Descarrega do peito 

E busca adentro em suas entranhas

O miolo do mundo, o extraordinário e o absurdo

A criança e o óbito, o racional e o abstrato

Resgate o carrasco inimaginável

Traga junto a ti

E seja o algoz das suas interrogações.

Primórdios

Olá
talvez não seja a melhor forma de conversar
talvez não nesse tempo
mas não há culpa, quando vc nasce em outro momento

o necessário é se deparar
com o ignoto e se questionar
sobre como responde o x
e também o c, b, a

falta papo sério
está extinto falar de amar
falta um jantar a dois
em uma laje... Com um luar

nunca fui de ter dinheiro
afinal, caiçara e filho de pedreiro,
bom, nada mal...
para uma criança com sonho de engenheiro

Vítima

Eu não sei dizer
consigo somente sentir
algo na minha alma
que nunca mais irá sair

me sinto quente
me sinto vivo
estou vivendo um turbilhão
sei que está comigo

quero provar-lhe
de corpo e alma
quero ser teu acerto
e também tua falha

está proibido se arrepender
pois estou flagrando-te
e tu, estas na cena do crime
mais que uma cúmplice
                                                             [ é uma vítima desse regime...

Eco

Um movimento só nosso 

O entrelaço dos nossos corpos 

A dança que nos encanta 

Abrange a valsa da alma 

Mas não se ofega 

quando dos movimentos faz-se funk. 

No abraço póstumo a catarse do prazer 

Um abraço quente que no frio faz aquecer 

E ao pé do ouvido 

Ecoam vozes do querer: 

Vo-cê. Vo-cê. Vo-cê.

Maevimento

Retiro minhas asas

e as costuro

 em suas costas,

agora asas nossas

em você.

Voa filho meu

que todo esse azul é seu

e ao menor sintoma de cansaço

em seu peito há meu melhor abraço.

Claquete

Minha alma sorri na presença da tua

E se arca

Ao compasso da lua

São fases que vi 

E nunca vivi

A harmonia que traz

Exala e a faz

A mulher que atira 

Sussurrando paz

No meu peito sua mira:

É onde satisfaz.

Olhos cheios

Com os olhos de quem sabe amar

Ela me devora

em sorrisos precisos

Que nos fazem suspirar

Sintonia em ascensão

Alma roxa plana o chão

De tanto rir vejo emergir:

Indefinido,

À surgir.

Nó na garganta

Ar e a sua falta

Sufocado, mal respiro

A alma da um suspiro

Mas não levo alta

Em qualquer momento

A asma ataca a alma

E não há pedidos de calma

Que afague o sofrimento

O coração pulsa em cada batida

Sugando a pouca energia vital

Transformando em existencial

Cada esboço mental sobre a vida

Nesse exato espaço de tempo

Não se enxerga mãos amigas

Que aqui só são estendidas

Quando a ajuda é um passatempo

Recado

Aos pombos do amor

Que se contentam com migalhas,

Que voam baixo e não saem do chão

A esses vos digo:

Morrerão virgens de uma grande paixão.

Poetochefe

Tempera minha vida

Com pitadas de você

Joga algumas doses de sorriso frouxo,

Uma porção de palavras boas

E um pouco desse olhar mal intencionado

Mexe bem até ficar no ponto

E ferve tudo em sentimento.

Adicionar a gosto cada desejo mútuo,

Cada anseio e medo, para um efeito agridoce.

Prato da Felicidade, degustar sempre à dois

Para nutrir o agora 

E o depois.

Expurgo I

O silêncio que sucede o barulho

Traz consigo o repouso da alma

Para o sossego do ser inquieto

Que já não mais logra a calma

No vazio que emana o ambiente

Faz-se levada criança curiosa

E a coragem agora presente

Intermedeia a breve prosa.

Abstrato

Calmo como uma bomba

Em mais uma tarde vazia

Pronto pra explodir

E pintar as paredes com o que sentia

Perdido no contorno

das minhas dúvidas

O câncer da minha alma

é o desejo insaciado

Palavras que não machucavam

Hoje enterram-me

Na cova que eu abri,

por não me abrir.

Mais ansioso que um quadro em branco

Esperando pelo primeiro risco

Aquele que rasga a alma

E ao sentir, chamo de cisco.

Neblina

A angústia que asfixia o peito

Oferece conforto na desistência: 

Ilusório.

Maldito é o homem que acredita

Na vida após a vida

E não vive essa

Com o medo da próxima ser mais doída.

Me deixa

Me deixa em qualquer verso

Qualquer rima,

Canto ou lágrima

Me deixa e esteja por perto

Como quem deixa livre 

Mas prende os olhos ao voo

Me deixa mas não me esquece

Que é pra entender

Que morre mas não desaparece

Me deixa com vontade de ficar

Que em você eu busco

O que as pessoas chamam de lar

Imbróglio dos deuses

Somos todos deuses gregos:

Atlas ao segurar o próprio mundo

Harpócrates ao guardar um segredo

Gaia, de onde tudo é oriundo.

Cada um de nós Dionísio

Ao passo que o prazer 

Se torna um mero vicio

Que Apolo tenta ser.

Elas são Afrodite e Ares,

Juntas na guerra do amor

Onde Poseidon abre os mares

Para Eros sem pudor ou dor

E se Atena beijar Hera

E falar assim: "é ela!"

Quem é Zeus ou Cronos

Pra dizer quem somos?

Fotografias

Revisando antigos conceitos 

Como quem vê fotos antigas

E abolindo preconceitos

Para terminar o álbum da vida.

Buraco negro

No meu buraco negro existencial

Sou devorado por partes 

Mas nunca inteiro

E me regenero, com o ar da graça, 

que talvez seja a divina.

Não sei se isso é bom ou ruim

E nem ao menos sei sobre mim.

Aos pedaços não me descobri

Mas vi, vivi e senti

Que em vão eu não existi.

De nós a noz

Enquanto corda, nós

Enquanto gente, nós

Enquanto semente, noz

E como a semântica das palavras

Mudaremos de nós a noz:

Para que nunca a sós.

Lembrete

Hoje é dia

Se é dia, rima com alegria

Já te dei um motivo pra ser feliz

"E se fosse noite?"

Ai dia não seria, mas a alegria também bastaria.

No afago da Cruz

Quando a alma se contrai

É ali onde você deve ficar,

E as borboletas no estômago

São sinais de que encontrou seu lugar.

Quando eu me for e eu me vou

Quando eu me for e eu me vou

Não caberá a você interferir

Se quando eu me fiz presente

Não soube do amor sentir.

Quando eu me for e eu me vou

No passado você morre

E ao sentir minha saudade

Segure com olhos o que escorre.

Alar-se

Eu gosto é do que atiça

E mantem a chama acesa

Nas cinzas da faísca

Assopra com ar de certeza

Que solta mas vigia o voo

Não interfere a liberdade

Acena com o coração

E volta quando tem vontade.

leve

ao menor entrelaço

de almas exprime

todo o enfermo

em pedaços define

a impureza expelida

em cubos de culpa

pra por no seu copo

ao ecoar da desculpa

o verso é sonoro

pra quem o escuta

pra quem o devora

ele é amarga fruta.

Prefácio

Os conceitos que aqui criados

Por nenhum deus serão devastados

Todo e qualquer preconceito

Descansará para sempre em seu leito

Como magia, a noite tomará o dia

E fará do crepúsculo sua covardia:

Covarde ao ato que encanta

E estrangula o nó da garganta.

Valsa de Circo

Em versos meus tua imaginação expande

Ao passo que a alma contorce

Exprimindo ternura

Em cada passo dessa valsa mental

Dançando a dois num salão em chamas

Onde o fogo arde mas não queima

É inexistente qualquer dor

Onde existe a aura do amor.

lembra

lembra dos momentos vividos

do passado, dos poucos amigos

lembra das grandes conquistas

das derrotas e quedas na pista

lembra dos abraços apertados

de antigos amores e namorados

lembra das dores causadas

sem intenção pelas pessoas amadas

lembra das histórias engraçadas

vividas num breve conto de fadas

lembra dos gritos ignorados

por aqueles surdos mal amados

lembra que viver é exatamente

o que vem na mente,

quando e fatalmente

a lagrima atinge o inconsciente.

pés que não nadam

em cada canto

um encanto

a sereia e seu canto

em barcos cujos

marujos

navegam minguado sujos

há nos mares

marés de amor

em ondas que acabam aos pés

ao compasso da cena

que a criatura encena

o criador acena

ao espetáculo breve

de almas leves

que estão em greves

a cortina se fecha

sem luz pelas brechas

viveremos em flechas

de arcos dominados

por denominados

homens deturpados

Oceano

Existir não basta,

Tem que viver de forma intensa

E pensar não é nada,

Se não for como o outro pensa.

Felicidade:

Existe só se for fotografada

E o amor é só mais uma

De muitas conversas fiadas.

O que ta em falta é se sentir meio perdido

Suor escorrendo e suspiros ao pé do ouvido

É ser Bonnie e Clyde de um pais subdesenvolvido

É ter um sorriso de devassa com um olhar agradecido

É a indignação de só molhar o pé

No rio que é cada ser humano

É a postura e a boa fé

De ser bifurcação e ao final ser oceano.