terça-feira, 13 de outubro de 2020

a lua me chama

 na curva do infinito
a sombra do universo
me traz a mansidão
de quem quer no riso mudo
alcançar as estrelas
sem tirar o pé do chão.

eu me recuso
a ser a resposta dada por educação
eu quero mais, quero
ser a valsa da menina que termina a noite mulher,
ser  o frio na barriga em dia de grinalda,
ser a paz que transcende o abraço deitado.

e no caminho de volta
em uma dessas curvas do infinito
eu quero capotar o meu eu lírico
e ser parte da sombra do universo.

domingo, 4 de outubro de 2020

guarire

o que eu não controlo da vida
não me pertence,
mas o processo que procede o resultado
é tão meu quanto a voz na minha cabeça.

ponderar sobre ela para não ser um covarde insensível
e tampouco um lunático irrefutável,
a intensidade em que me machuco
é a mesma que me regenero.


domingo, 20 de setembro de 2020

uma oitava

nem só de luz se alimenta a esperança
bem como as trevas não só emanam escuridão,
cada qual em seu potencial
extraem de mim o que de melhor eu posso dar

minhas vontades ecoam no alto da montanha
feito alaridos febris de quem perdeu a guerra,
a redenção de quem ousa viver
com certeza é sentir.

domingo, 23 de agosto de 2020

19h04

O domingo não me chama 
porém me acolhe:
O que é que quer de mim se não só o que me resta da semana?
E o que me resta da semana?
Se só cultivei as belas coisas, pois assim então as ruins não tenho e
Se só cultivei maus hábitos, eles se agravam ou se afagam?

domingo, 26 de julho de 2020

Sebastião

an oldman thankful for his entire life
teach us more than we could learn,
vô, seus costumes antiquados se perderam
na transição de gerações da nossa família

é verdade que o senhor se foi cedo,
e antes mesmo que pudesse me ver crescer
os seus olhos passaram a ser os da minha vó,
os quais pela avançada idade já mal me reconhecem

na genuína insciência de quem só viveu no campo
a cidade nunca tivera o seduzido, senão
para os proventos da família que formara e assim
trazia junto ao seu burro de carga as vendas do dia.

como quem não queria nada além de se sustentar
soube ensinar o brio necessário para enfrentar a vida
just like an oldman with a child's soul
swimming in smiles for your grandchildren.


sexta-feira, 3 de julho de 2020

dissonante

Cantava como quem tinha
o maior dos desprezos pelo silêncio,
fosse acordando, fosse de encontro ao sono
solfejava melodias nos mais singelos melismas.

Olga, não.
tinha pela quietude total apreço,
em sua utopia havia apenas bolas de feno ao horizonte,
abraçava o silêncio como se a aquecesse.

O sossego o atordoava de tal forma
que suspeitava ter sido telefone de escritório na vida passada
e não largava o habito:
havia sempre de conversar com os passarinhos pela manhã

Aos finais de tarde ela conversava com o por do sol
como um smartphone se comunica com a tomada,
com a licença da analogia
Olga concluíra que conversava mais que seu oposto.

Ele, que de pirata não tinha nada
comprou um papagaio e passou a conversar em ecos.
Ela, por sua vez, fez um voto de silêncio
onde sua ultima palavra foi:

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Nero

Quando vim a vida
Vi que "puxa vida"
Tipo o Júlio do Cocóricó

Pensei: "aqui não é fazenda
Mas tem capitão do mato
subindo no morro e forçando BO".

O preconceito era escancarado
Não diminuiu, só ficou velado
E todo mundo foge do assunto
Porque diz que o tema é "muito delicado".

Delicado é o dente-de-leão,
Pauta social se faz necessária,
Enquanto sociedade, todos sangram
E o sangue do preto ainda é cor primária.

João Pedro, Rafa Braga
Marielle e Guilherme Guedes,
Foram oitenta tiros e ninguém teve dó.