sexta-feira, 3 de julho de 2020

dissonante

Cantava como quem tinha
o maior dos desprezos pelo silêncio,
fosse acordando, fosse de encontro ao sono
solfejava melodias nos mais singelos melismas.

Olga, não.
tinha pela quietude total apreço,
em sua utopia havia apenas bolas de feno ao horizonte,
abraçava o silêncio como se a aquecesse.

O sossego o atordoava de tal forma
que suspeitava ter sido telefone de escritório na vida passada
e não largava o habito:
havia sempre de conversar com os passarinhos pela manhã

Aos finais de tarde ela conversava com o por do sol
como um smartphone se comunica com a tomada,
com a licença da analogia
Olga concluíra que conversava mais que seu oposto.

Ele, que de pirata não tinha nada
comprou um papagaio e passou a conversar em ecos.
Ela, por sua vez, fez um voto de silêncio
onde sua ultima palavra foi:

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