quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

gesto obtuso

eu mergulhei pelado no vazio do seu abraço
submergi bem fundo onde só eu ia chegar
como quem tinha um plano, eu só rompi o laço
quando acordei na praia, vi que não ia voltar.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O pássaro e o manobrista

Caia como a noite em Norilsk
Mais leve que um dente-de-leão
Breve como cheiro de terra molhada
Sempre paralelo mas nunca ao chão

O pássaro e o manobrista
Um afago para o pessimista,
Que acompanhava o trânsito aéreo
Sem entender se Deus era música ou vento.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Roteiros

Cigarro, cirrose
Álcool, câncer
Metrópole, marasmo
Fazenda, enxaqueca.

As vezes a vida não segue o script.
E ta tudo bem.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Quanto vale o show?

Quanto vale o show?
Quanto vale?
Se somos protagonistas de nossas vidas
Com plateia intermitente e figurantes sem pudor, nós sabemos
que ainda sim nos censuram... 
Alias, quanto te pagam ao fim do mês 
pra desistir diariamente do seu sonho?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

a lua me chama

 na curva do infinito
a sombra do universo
me traz a mansidão
de quem quer no riso mudo
alcançar as estrelas
sem tirar o pé do chão.

eu me recuso
a ser a resposta dada por educação
eu quero mais, quero
ser a valsa da menina que termina a noite mulher,
ser  o frio na barriga em dia de grinalda,
ser a paz que transcende o abraço deitado.

e no caminho de volta
em uma dessas curvas do infinito
eu quero capotar o meu eu lírico
e ser parte da sombra do universo.

domingo, 4 de outubro de 2020

guarire

o que eu não controlo da vida
não me pertence,
mas o processo que procede o resultado
é tão meu quanto a voz na minha cabeça.

ponderar sobre ela para não ser um covarde insensível
e tampouco um lunático irrefutável,
a intensidade em que me machuco
é a mesma que me regenero.


domingo, 20 de setembro de 2020

uma oitava

nem só de luz se alimenta a esperança
bem como as trevas não só emanam escuridão,
cada qual em seu potencial
extraem de mim o que de melhor eu posso dar

minhas vontades ecoam no alto da montanha
feito alaridos febris de quem perdeu a guerra,
a redenção de quem ousa viver
com certeza é sentir.