domingo, 2 de fevereiro de 2020

Chama azul

A noite cai e com ela toda a culpa que eu mereço
Um homem de pecados, tenho vozes na minha cabeça
E quanto maior o silêncio ambiente, mais alto elas ecoam.
O inferno não está abaixo dos pés, está dentro de nós.

No desafogo da alma, o calor transpira a sede da vida
Não há no mundo dor maior.
Engulo a seco a minha paz e
Abraço os alaridos da minha mente.

Linha de frente na guerra das decisões:
O certo ou o seguro?
Optei por aquilo que acho certo - e quem dita o que é certo? -
Em meio ao caos, a mistura homogênea de sangue.

Lancei ao submundo a minha prece:
Que por cada atitude de coração me cresçam asas.
Sob a benção de Ícarus anseio o céu,
Espero ter mais sorte do que ele teve.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

pag. 3 e 5

Curioso caso: Cândido condenado
Cordial, confessou os crimes clichês
Cético, cauteloso, coeso e crítico
Cândido: cárcere cósmico e concavo.

Efémero, no escopo o escárnio explícito
Entretanto, entediado escreve emotivo
Erosões, emanam emancipação eterna
Estrangeiro, estrábico egoísta estúpido.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O velho pub, 1889

Acorde,
enxague o rosto, vista seu melhor sorriso e enfrente o mundo!
Ou não.
Permita-se acordar gradativamente e que as remelas esvaiam-se gentilmente da concavidade dos seus olhos. Mas não esqueça de lavar o rosto, isso é importante.

Defronte a manhã seja ela ensolarada ou cinza-nublada,
Permita-se apreciar, sentir, existir e viver
E agora a pensar: o que você faria?
Faça ao contrário dessa vez, e faça porque você pode.
Pegue outro caminho para casa,
Beba outra cerveja, aquela que nunca bebeu,
Sorria nefastamente para o desconhecido, para o nada, para o inimigo!

"Irene, traga-me a melhor bebida que tiver!
Ou a pior... Ou apenas a que meu dinheiro puder comprar, tome, aqui! Apenas traga-me. Obrigado!"

Saia em plena terça-feira, chame os amigos e vire a noite como quem não tem nada a perder além da vida não vivida e seja livre. Tão livre para ter a paz de se emaranhar ao cobertor e hibernar pelo final de semana inteiro, sem qualquer badalação e que isso não corrompa o âmago da sua paz.


Combine amarelo com roxo, verde com vermelho. Faça um carnaval com o seu corpo.
Ou saia trajado inteiramente de preto, de luto, está tudo bem também.

"Irene? O que houve com meu copo que retornou vazio? Ora pois, essa mulher me deixa com os olhos semicerrados."

Estude, trabalhe, viaje o mundo e não necessariamente nessa ordem. Plante mandiocas, alfaces, arvore de acerola - Ah, quem resiste a um bom pé de acerola?
Duvide! Duvide de si, duvide do outro, duvide de tudo e até do ceticismo. 
Caia no abismo da dúvida, pois ela é o preço da pureza e arranque seu maior voô para os braços quentes de quem te acompanha desde pequeno.

Ajuste a cadeira, cuidado com a postura.
Volte alguns versos, leia com entonação e atenção. Ou apenas continue.

"Senhor? Não era sobre isso que falava? - e riu discretamente, antes de desabotoar o avental que cairá ao chão e ir embora."

Eu saboreio a vida como quem se flagela com os próprios erros.
No final - se é que há final - o preço da vida é 
único e exclusivamente
ser protagonista das minhas decisões. Certas ou erradas, apenas um ponto de vista

"Adeus, Irene, adeus!"




domingo, 5 de janeiro de 2020

Whiteboard

Com a tinta do caos
um quadro em branco foi pintado
embora passasse anos
jamais revelou-se seu significado

Passava-se o tempo
e inúmeros amantes da arte
as tentativas continuavam
mas nenhuma que o desvendasse

Surgiu então uma mulher
perdida em seu devaneio
olhou aquele quadro
e pensou que fosse espelho

A medida que se aproximava
maior foi sua identificação
aquele não era um quadro branco 
era reflexo do seu coração



segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Optometria disléxica

Sucinto e singelo, tom amarelo:
A cor que pede atenção e a tem.
Na luz do giroflex
a mão de quem atira 80 vezes 
é tão pesada quanto um dia cinza,
e o marrom abre espaço sob as pegadas
na poça vermelha do despreparo.
Aqui o verde não prospera.
Onde o filho chora e a mãe até vê, mas não pode fazer nada.
Marsala, bege, azul...
Quando se é pobre e morador de favela
você pode pintar cada barraco de uma cor
e ainda sim não vê a paz.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Caesari quod est Caesaris

Aqui o tempo é ruim o tempo todo
E quem diz que não, é passageiro,
Breve a afogar as palavras
No vômito árido de sua ignorância.

Aqui o tempo é ruim o tempo todo,
O sol é estagiário contratado
E a liberdade sempre de greve.
Visita frequente? Saudade.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Cinzas do Éden

Tenho em mim:
O existencialismo de Sartre,
A inquietação de Nietzsche
E as dúvidas de Sócrates.

Não há cura para as feridas
Que o conhecimento causa à alma
Os enfermos entranhados
Ecoam em cada mísera célula.

Alaridos vazios de sanidade
E exacerbados de anseios
Nessa jovem idade.

A vida é um breve sopro
No sol, o frescor e
Na sombra, a asma.